29.9.10

Diário da Índia - Dia 6

A cada dia que passa aprendo algo novo, todos devemos ter a noção que podemos aprender com o mais ignorante dos seres, e não devemos julgar as pessoas pelo aspecto. Depois de ter tostado ontem no sol tórrido que por aqui se faz sentir, hoje nas primeiras horas de trabalho durante a manhã um indiano, veio ter comigo e disse-me que tinha algo para mim, ele comprou um protector solar para mim e eu fiquei sem saber o que lhe oferecer ou dizer para agradecer, porque aqui não tenho nada para retribuir, ele disse que não é necessário qualquer tipo de retribuição, que foi com amabilidade que fez este gesto. No escritório costumam dizer que ele tem um ar ocidental por se vestir de maneira diferente e por ter uma visão fora do normal para os “limites” indianos. É sem qualquer tipo de dúvida o indiano com quem me tenho dado melhor nos últimos dias, passa o dia junto de mim a aprender o que eu faço, e vai-me falando da cultura indiana. Mostrou-me que é normal na índia dois homens casados e com filhos se passearem na rua de mão dada, sem qualquer tipo de problema e sem isso os diminuir na sua masculinidade ou sem o perigo de serem conotados como sendo homossexuais. Num local onde existe tanta pobreza, esta é das poucas maneiras que eles têm de mostrar a sua amizade e mostrarem como querem bem aos outros. É de admirar também como dois dos indianos que me têm ajudado e que não falam inglês, tentam comunicar comigo, por gestos, por símbolos, por palavras que tentam dizer em inglês porque perguntaram a outro que consegue falar, querem sentir-se próximos, querem fazer-me sentir bem num país que não é meu. Perguntam-me pela família, pela namorada, pelos amigos, se estão todos bem, se tenho saudades, se quero voltar, e notam que os meus olhos vidram e a minha voz embarga enquanto tento dizer que sim… Tentam de imediato animar-me, e é com a força deles que me vou aguentando por aqui, numa terra diferente da minha em tudo. Se por um lado estes que nada têm me querem oferecer o mundo, ou pelo menos os sentimentos bons deste mundo, e tanto me têm ensinado, por outro aqueles que tudo têm ensinaram-me que aqui, ser engenheiro e não ser, não é a mesma coisa, ser casado e não ser, não é a mesma coisa, é-se menos, muito menos. Estou misturado no meio do povo, no meio da miséria, mas tenho aprendido muito com eles, posso não conseguir falar com eles, posso não entender o que me dizem, mas sinto o que os olhos deles me mostram, e se as palavras e os sorrisos mentem, os olhos não o conseguem fazer! Já só faltam 6 básculas…

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