7.10.10

Diário da Índia - Dia 14

Acordei cinzento como o dia, não que aparente chuva, mas o sol anda meio escondido. A temperatura baixou, mas não o suficiente, e a indefinição de como vai ser o dia deixa-me com estômago às voltas. Por falar em estômago, sinto cada vez mais a falta de carne e de peixe na ementa diária. Deixei que o dia se arrastasse entre pequenas arestas que faltam limar, e entre arestas que alguns decidem criar. Foi precisamente uma dessas arestas que me fez perder a calma, pôs-me o sangue em reboliço e não aguentei mais, fartei-me de engolir sapos e abanar a cabeça, não insultei ninguém mas dei a entender que não estava virado para ser saco de boxe. Estou farto de uma terra que não é minha e que não me diz nada, estou farto de tostar ao sol todo o dia em pé, estou farto de me sentir fraco, cansado, totalmente esgotado ao fim 14 dias de trabalho ininterrupto, preciso de descansar, preciso de pôr as ideias em ordem, preciso de ir embora daqui. Chegou o dia que eu mais temia, o dia em que a aventura ia deixar de ter ilusão, ia deixar de ser novidade e se ia tornar numa monotonia que não me agrada. Custa olhar em frente e ver o que ainda falta, custa encarar cada dia como sendo apenas mais um, custa lidar com as saudades e sentir-me distante de tudo o que mais quero. Custa não ter ninguém para falar e custa cada vez mais mentir que está tudo bem quando na verdade estou a segurar as lágrimas para não caírem enquanto me mentalizo que tenho de ser mais forte ainda e quando me apetece largar tudo e correr em direcção a um pouco de carinho. Sinto-me encarcerado, rotinado e estou farto, estou cansado, quero ir embora, já…

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