As
diferenças na língua criam-nos barreiras muito difíceis de transpor. Não há uma
palavra ou um som em português ou inglês que se consiga assemelhar ao Hindi.
Até mesmo os gestos que no nosso quotidiano são banais e fazemos
instintivamente, para um indiano são autênticos quebra-cabeças. O mesmo digo eu
quando eles acenam a cabeça sem que eu perceba se dizem sim ou se dizem não. É
frustrante querer pedir algo, fazer uma pergunta, e não obter nada do outro
lado, nem conseguir mostrar outra forma para que o entendam. Existem no entanto
indianos que por terem acesso a outros meios, como televisão e internet, estão
mais familiarizados com os gestos ocidentais, porém, todos esses entendem e se
expressam minimamente em inglês, o problema maior é que não é com esses que eu
lido diariamente, eu lido com os indianos que nunca foram à escola, que não
sabem ler, não sabem escrever e que no fundo até são simpáticos e prestáveis,
querendo sempre ajudar. Esta grande barreira que impede a comunicação criou-me
hoje um grande problema. Precisava pedir um cartão de forma circular aos
camionistas a fim de testar o sistema, porém não tinha tradutor comigo, e o
único que me disse que falava inglês, não percebia o que dizia (não se que
inglês falava ele!). Restava-me por gestos tentar fazer-me entender. Como é
fácil de imaginar não me saí muito bem. Qual é o gesto mais simples para
indicar um objeto redondo em forma de disco? Unir as pontas dos dedos indicador
e polegar tentando criar um círculo. Para meu espanto o primeiro camionista até
fez um ar de quem percebeu, senti-me feliz… por meio segundo, pois o que ele
tirou do tablier foi uma chave de fenda… Bolas! Tentei pedir novamente mas fui
ignorado, e como o homem já se estava a sentir pressionado decidi tentar outro
motorista. Voltei a fazer o mesmo sinal, uma, duas, três vezes e nada. Ele
dizia-me algo que eu nem fazia ideia do que era, mas mostrava-se atento e
desejoso de me ajudar. Continuei a insistir mudando o gesto, agora tentei criar
um círculo com os dois dedos indicadores e os dois polegares. Ele fez uma cara
de esclarecido e fez-me também um gesto. Uniu os dedos polegares e indicadores
de uma mão e introduziu o dedo indicador da outra mão no círculo. Não, não era
sexo que eu queria caramba. Soltei uma gargalhada, pedi-lhe que saísse do
camião e lembrei-me que nos posto que montei tinha um símbolo do que eu
precisava, ele amavelmente foi ao bolso e acertou no objeto que eu procurava.
Estava difícil…
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