17.11.12

Diario da India III - Dia 14


As diferenças na língua criam-nos barreiras muito difíceis de transpor. Não há uma palavra ou um som em português ou inglês que se consiga assemelhar ao Hindi. Até mesmo os gestos que no nosso quotidiano são banais e fazemos instintivamente, para um indiano são autênticos quebra-cabeças. O mesmo digo eu quando eles acenam a cabeça sem que eu perceba se dizem sim ou se dizem não. É frustrante querer pedir algo, fazer uma pergunta, e não obter nada do outro lado, nem conseguir mostrar outra forma para que o entendam. Existem no entanto indianos que por terem acesso a outros meios, como televisão e internet, estão mais familiarizados com os gestos ocidentais, porém, todos esses entendem e se expressam minimamente em inglês, o problema maior é que não é com esses que eu lido diariamente, eu lido com os indianos que nunca foram à escola, que não sabem ler, não sabem escrever e que no fundo até são simpáticos e prestáveis, querendo sempre ajudar. Esta grande barreira que impede a comunicação criou-me hoje um grande problema. Precisava pedir um cartão de forma circular aos camionistas a fim de testar o sistema, porém não tinha tradutor comigo, e o único que me disse que falava inglês, não percebia o que dizia (não se que inglês falava ele!). Restava-me por gestos tentar fazer-me entender. Como é fácil de imaginar não me saí muito bem. Qual é o gesto mais simples para indicar um objeto redondo em forma de disco? Unir as pontas dos dedos indicador e polegar tentando criar um círculo. Para meu espanto o primeiro camionista até fez um ar de quem percebeu, senti-me feliz… por meio segundo, pois o que ele tirou do tablier foi uma chave de fenda… Bolas! Tentei pedir novamente mas fui ignorado, e como o homem já se estava a sentir pressionado decidi tentar outro motorista. Voltei a fazer o mesmo sinal, uma, duas, três vezes e nada. Ele dizia-me algo que eu nem fazia ideia do que era, mas mostrava-se atento e desejoso de me ajudar. Continuei a insistir mudando o gesto, agora tentei criar um círculo com os dois dedos indicadores e os dois polegares. Ele fez uma cara de esclarecido e fez-me também um gesto. Uniu os dedos polegares e indicadores de uma mão e introduziu o dedo indicador da outra mão no círculo. Não, não era sexo que eu queria caramba. Soltei uma gargalhada, pedi-lhe que saísse do camião e lembrei-me que nos posto que montei tinha um símbolo do que eu precisava, ele amavelmente foi ao bolso e acertou no objeto que eu procurava. Estava difícil…

Sem comentários: