6.11.12

Diario da India III - Dia 3


Todos os dias tenho atravessado uma linha de comboio em pleno funcionamento e outra em construção. Ao contrário do que se pensa por esse mundo fora, os comboios aqui também podem ser normais, onde as pessoas vão e permanecem sentadas, é desses comboios que por cá passam, muitas composições mas sem penduras nas janelas e no tejadilho. Ao passar pelo caminho-de-ferro que está a ser construído imaginei como é triste ser comboio, os outros trilham-nos os caminhos e não nos podemos desviar deles sob perigo de não voltarmos a encarrilhar. Não quero ser um comboio, quero trilhar o meu próprio caminho, pisar onde quero mas ter o cuidado de não pisar ninguém, ao contrário do que faço com os insectos que se passeiam pelo meu quarto e pela minha cama. Comigo não dorme ninguém, nem coisa nenhuma! Por aqui começo finalmente a ver a locomotiva sair da estação. Como uma máquina a vapor, devagarinho lá vai tentando movimentar as rodas todas presas umas às outras, muito fumo, mas ainda assim pouco movimento para o esforço gasto, tivesse a locomotiva uma pequena ajuda para vencer a inércia e tudo escorregaria melhor. Outra coisa engraçada que tenho visto por cá são os miúdos todas as manhãs em direcção à escola. É giro vê-los de uniforme, como se de uma telenovela de tratasse, sem os conhecer, desejo-lhes a maior sorte do mundo, eles não me vêm, não me ouvem, mas sei que por certo sentirão o meu sorriso. Não merecem esta miséria, merecem crescer como os uniformes, sempre limpos, aprumados e sem falta do essencial. Por falar em essencial, por aqui o essencial para mim tem sido a comida, e tem melhorado diga-se em abono da verdade. Hoje voltei a comer no mesmo local de há dois anos atrás, revi caras que continuam iguais e comia a comida a que já estava habituado com uma surpresa, hoje havia batatas fritas aos palitos! Que maravilha… Ainda me falta contar a história do livro em Itália, mas hoje já não dá tempo.

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