Levantei-me
com um peso nos ombros como se carregasse toda a India. Começou a bater-me o
cansaço, sinto-me aqui preso há um mês e nem há uma semana cheguei. Arrasto os
pés tal e qual um dos sujeitos a quem tentei ingloriamente explicar onde ficava
Portugal. É enorme a dificuldade com a língua, nem mesmo a língua gestual se
consegue aplicar como se pensa, exemplo disso é a grande maioria dos que me
rodeiam não compreender o sentido de um polegar erguido e o resto da mão
fechada. É a língua que nos define e é ela que esconde muitos problemas, como a
afta que me afecta e que só no final do dia consegui descobrir, a falta de
espelhos tem destas coisas, não vemos em nós o que facilmente vemos nos outros.
Vamos lá contar a história do livro em Itália e deixar as brincadeiras parvas
com a tentativa de aguçar a curiosidade pelo dia seguinte deste diário. Após a
aterragem do avião em tamanho reduzido da Portugália, no aeroporto de Milão, os
passageiros, como normal, arrumam os seus pertences e saem ordeiramente do avião.
Se a saída não se efectuar directamente para o interior do aeroporto, por norma
existe um autocarro para fazer o transporte, ora foi exactamente o que
aconteceu, toda a gente entrou no autocarro com a excepção de um passageiro que
continuava dentro da aeronave à procura de um livro, e tendo a certeza que o
fazia transportar consigo e que não poderia ter saído pelo próprio pé do avião,
avisou a tripulação que não estava a conseguir encontrar o seu livro. Dirige-se
então um membro da tripulação do avião à porta traseira do autocarro e grita
alto e bom som “Alguém por engano ou distracção trouxe consigo um livro que não
lhe pertencia?” Os passageiros olham uns para os outros, uns na tentativa de
identificar um movimento suspeito outros a perguntarem-se com os olhos que
pergunta estranha era aquela, outros a perguntar o que disse o homem porque não
falam português, e para esses, o senhor repetiu exactamente o mesmo mas agora
em inglês cerca de 10 segundos depois. Volta a aguardar mais 10 segundos e à
falta de reposta pergunta novamente, ninguém responde e ele fica-se apenas pelo
“Não?” A pontos de voltar costas por ver a sua esperança desvanecida,
levanta-se um sujeito com o cabelo todo branco a aparentar os seus 60 anos e
que estava a meio metro do tripulante do avião, chega-se perto dele, coloca a
mala de mão no chão enquanto a abre e diz “Sou eu que tenho, mas peguei nele só
porque não estava lá ninguém e o livro estava sozinho, foi para não o deixar
lá, pensei que alguém se tinha esquecido dele!” 3 conselhos para quando
viajarem de avião, nunca percam de vista os vossos pertences, se encontrarem
algo que parece estar perdido entreguem à tripulação e no caso de não
entregarem respondam que são vocês que têm o objecto perdido à primeira vez que
perguntarem, fica bem, e não passam por ladrões.
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