26.11.12

Diario da India III - Dia 23


Várias vezes brinquei com a situação de dormir acompanhado na India, por insetos que me assaltavam a cama durante a noite principalmente a primeira viagem que fiz para cá, mas hoje, ao pequeno-almoço, foi proposto pelo gerente da casa que partilhasse o quarto, porque estava para chegar uma importante visita e não tinha onde ficar. Ora entre partilhar o quarto, que até tem dois colchões mas um só édredon, e mudar para uma casa com condições bem piores, lá acedi a passar duas noites “acompanhado”. Mais tarde deixou de ser necessário, e afinal até vou passar a noite sozinho. Entre o pequeno-almoço e o jantar nada mais fora da rotina habitual aconteceu que mereça destaque. Começo a ter dificuldade em encontrar algo para contar, algo marcante, que faça a diferença, que mostre o choque de culturas. Se calhar começo é a habituar-me eu a tudo o que por aqui acontece e tudo me parece banal, normal e nada me surpreende. Nem mesmo os tijolos feitos de uma matéria estranha que parecem ter o peso do mesmo volume em esferovite, e a verdade é que se desfazem como esferovite apesar de aparentarem ser tijolo-burro, daqueles que se fazem os fornos e as lareiras. Já tudo me parece normal, o sol que se esconde o dia todo entre a poeira, os portões e portões e portões que atravesso diariamente e que parecem apenas servir para dar emprego ao sem fim de seguranças que por cá se passeiam, as bicicletas com travões na roda traseira com chave (funcionam como um cadeado, neste caso fica a roda da bicicleta travada com chave), as lombas e as más suspensões dos TATA e dos Mahindra, tudo é banal e normal nesta terra, menos eu, eu sou o estranho, eu sou o português, eu sou o que vem de um país que a maioria nunca ouviu falar, eu sou o que tem ferramentas estranhamente funcionais e novas, eu sou o único a querer ir embora daqui, eu sou o único que não os entendo e sou o único que não me faço entender. Ao menos enumerei algumas coisas em que sou único!

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