7.11.12

Diario da India III - Dia 4


Há livros vazios de conteúdo, livros vazios de palavras, livros por escrever e livros que não o deviam ser. Contudo, existem bons livros, livros que nos apaixonam com a sua história e nos fazem sonhar, livros que nos oferece a nossa paixão, livros que são o nosso sonho, livros que nos tocam, que nos marcam nem que seja pela dedicatória escrita num virar de página. Todos são livros que demoram uma eternidade a escrever, tudo é revisto ao pormenor para não falhar nada, para sair na perfeição, para agradar, para vender. Por aqui nota-se a falta de livros, sejam eles quais forem, bons ou maus não interessa, mas não existem, não se encontram. Acredito que cada pessoa que comigo se cruza na rua tinha histórias que dariam um bom livro, mas falta-lhes o tempo e a mim também. Cheguei ao fim do dia de rastos, inalei quilos de cimento, tenho o sabor do pó a roer-me os dentes e sinto-me como se tivesse acabado de escrever uma enciclopédia de uma assentada só. Mas não o fiz, porque falta-me o tempo, começo a senti-lo escorregar-me entre os dedos como o cimento que rapidamente se acumula em tudo o que está parado. Aflige-me este sentimento, assusta-me olhar para o futuro, e por isso continuo a querer olhar só para hoje, aproveitar a coisa que melhor me sabe em terras indianas, um bom banho quente para limpar toda a porcaria que carrego, e deixar-me arrastar até à cama no fim de um jantar com uma comida intragável e adormecer sem dar por isso. Hoje há futebol em Braga, um dos melhores e mais apetecíveis jogos na minha cidade natal. O meu Braga defronta o poderoso Manchester United e eu estou do outro lado do mundo a tentar despertar à 1h30 da manhã para me agarrar à TV e ver o meu clube através da Tem Sports. Sinto a cabeça a explodir, preciso relaxar, preciso desligar o cérebro. 

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