Ficou
então guardada para hoje a explicação de porque seria este um dia comprido. Ao
contrário da primeira imagem que possa ter passado, não se trata de um dia
custoso ou penoso. Há precisamente um ano, estava eu em Baga (India) quando uma
dúvida me saltou à mente. Passo a explicar, eu estou com uma diferença horária
de mais 5 horas e 30 minutos em relação a Portugal, posto isto, devo-me reger
segundo que horário quando trato de questões que nada têm relacionadas com o
país dos Himalaias? É desde 1986 o dia 29 de Novembro é o dia em que comemoro o
meu nascimento, e em que os amigos e a família me desejam um feliz aniversário.
Toda a gente define como comemoração de aniversário as 24 horas que compõem o
dia, já eu me encontro num caso bicudo, pois para festejar o aniversário pela
hora portuguesa, vou passar 5 horas e meia de comemoração para o dia 30, e para
festejar pela hora indiana, festejo 5 horas e 30 minutos do dia 28. Ora
gostando eu de festejar o meu aniversário e como sou eu que mando nele, decidi,
com força de Lei, que o meu aniversário será considerado, este ano, entre as 0
horas de Chunar (India) e as 24 horas de Braga (Portugal), o que me dá a
possibilidade de festejar durante 29 horas e 30 minutos. Festejar como quem
diz, dentro dos possíveis receber mensagens de Portugal e alguns cumprimentos
aqui dos Indianos. Todos os aniversários têm também uma surpresa, pode ser um
presente ou outra coisa qualquer, como a surpresa de quem se olha ao espelho e
exclama “Estou a ficar velho!” Eu também tive hoje uma surpresa. Por
brincadeira o cozinheiro ficou de preparar ao jantar frango cozido, uma iguaria
para quem come massa com pimentos há tanto tempo. Mas antes do jantar, chegou
aos ouvidos do chefe do escritório que eu fazia anos hoje, cumprimentou-me, abraçou-me,
sacou da carteira, pegou numa nota amarela de 100 Rupias (não chega a 1,50 €) e
pediu que se fossem comprar chocolates, batatas fritas e bebidas para se
festejar o meu aniversário. Tudo isto em Hindi e claro está, não percebi
patavina. Já no escritório vejo entrar pela porta alguém com umas sacas cheias
de chocolates, garrafas de “Thumbs up” (uma espécie de Coca-Cola mas que sabe a
café gasificado) e uma espécie de batatas fritas picantes que pouco consegui
provar. Chamou-se o resto do pessoal e pela primeira vez cantaram-me os
parabéns em inglês, num inglês mal pronunciado, mas num inglês com alma,
senti-o a cada abraço no final. Ficou registado o meu sorriso sincero de
alegria e agradecimento pelo gesto amável de quem pouco pode oferecer, mas que
oferece o que de melhor consegue e pode, porque nisso os Indianos são bons, dão
o que têm, e quem dá o que tem a mais não é obrigado.
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