28.11.12

Diario da India III - Dia 25


Não se pense que a minha viagem a terras poeirentas, com estradas cheias de buracos, onde se conduz por onde der mais jeito e se passeiam vacas sem rumo, onde esvoaçam pássaros de cores que saltam à vista, serve apenas para ensinar algo a quem por aqui vive. Serve muitas das vezes para aprender. Aprender a dar valor a coisas singulares e simples do nosso dia-a-dia. Não falo de valores como o amor, a saudade, a família, os amigos… Falo de coisas bem mais simples. Hoje ensinaram-me que não devo brincar com os instrumentos de trabalho, não por poder danificá-los, mas porque aqui, e passo a citar, “não é permitido”. Ora andando eu com falta de coisas com que me distrair, e com uma fome imensa de ver o Braga jogar e de eu próprio dar uns chutos numa bola, vou dando uns toques com umas pedritas que me saem ao caminho. Hoje quando caiu um rolo de fita isoladora a um eletricista, resolvi não vergar a molinha para o apanhar, por me caiu mesmo aos pés, resolvi num jeito de quem se está a armar e tem a mania que é engraçado fazer um movimento brusco ascendente com o pé, o que levou a fita até á minha mão, e quando pensei que tinha feito uma grande coisa explicara-me que não era permitido brincar com instrumentos de trabalho. “Os instrumentos de trabalho são o que nos permite trabalhar, e ganhar dinheiro para comprar comida, logo os instrumentos de trabalho são a nossa comida, devemos respeitá-los”, foi mais ou menos assim que me explicaram, e foi assim que percebi porque como sempre massa com pimentos ao almoço e ao jantar… é que a minha ferramenta é sempre a mesma desde que cheguei! Já nem um chuto num rolo de fita posso dar. Amanhã avizinha-se um dia muito comprido, a explicação vem já a seguir.

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