Voltei.
Voltei a escrever o dia 0 na minha terceira visita à India. Confesso que não
tenho a mesma vontade, a mesma força e a mesma frescura mental para aguentar o
que por cá se pena. A verdade é que será esta a estadia mais longa, imagino-a a
mais complicada. Começou por sê-lo na despedida, nenhuma das outras duas me
custou tanto. Três. Três era o número de vezes que tinha, em tempos, previsto
visitar a India, e cá estou, mas já nada me surpreende, já não há aventura, já
sei para o que venho, já sei o que encontro, não me faz confusão as mãos dadas
em homens de bigode posto, não me faz confusão o calor húmido nem o cheiro característico
que para mim será sempre o cheiro a India, porque não o encontro em mais lado
nenhum, e não o assemelho a nada mais. De diferente, desta vez, talvez só
consiga destacar o valente trambolhão que dei no aeroporto, uma queda
desamparada como se tivesse sido atropelado por um comboio, mas na verdade
tropecei só numa mala. Não me lembrava de cair assim desde miúdo, mas pouca
gente reparou, e quem se riu mais até fui eu. Por estranho que pareça, os 5
lugares do carro que rapidamente se transformaram em 6 e a condução habilidosa
de quem consegue conduzir em Delhi já me parecem banais, como o detector de
metais à entrada do hotel 5 estrelas que apita, mas ninguém quer saber porquê!
Sim leram bem, estou num hotel 5 estrelas, em que o chão espelha e reflecte a
minha imagem, em que tenho um senhor no elevador de luvas brancas para
pressionar o botão por mim, e onde trabalha gente cuja função é sorrir e
perguntar às pessoas se estão bem ou precisam de alguma coisa. Que coisa boa…
Por falar em coisas boas, nunca tive duas refeições tão boas na India como
hoje. Sem picantes, com arroz com sal, com massa sem imenso pimento e pimenta,
com amendoins, com carne de frango e de borrego… claro que o restaurante só
podia ser chinês-japonês. Enchi o bandulho, porque tão cedo não como tão bem.
Parto de manhã cedo rumo ao que me trouxe cá, acabam-se as mordomias, as
comidas boas e dizemos olá ao cimento e aos enlatados que levamos de casa. Só
espero estar a contar com o pior e as coisas melhorarem, porque senão…
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