5.11.12

Diario da India III - Dia 2


 
 
Há dias em que as coisas só podem mesmo melhorar, e hoje era um dia desses se as coisas não se tivessem mantido abaixo do que eu desejava. Não consigo perceber onde pode chegar a falta de vontade de um humano. De positivo (sim existe sempre algo positivo) destaco a comida e o acesso à internet. A comida, não que tenha sido muito boa, mas foi melhorando ao longo do dia. Ao pequeno-almoço fomos brindados com torradas recheadas com puré de batata e salsa acompanhadas de ovos estrelados com pedacinhos de tomate e cebola misturados com a clara, um espectáculo! Mas eu não comi, lá me trouxeram umas torraditas com manteiga como manda a sapatilha. Do almoço nada a relatar e o jantar esse sim, bem melhor que o resto, uma massinha com cenouras e feijão-verde digna de registo, dentro das coisas más que por aqui se comem esta era realmente a menos reles. Durante o dia também fui comendo, involuntariamente, cimento a magotes. Nem a máscara que me sufoca me valeu de muito já que cheguei ao fim do dia e sentia aquele pó cinzento a arranhar-me os dentes. Não arranhava só os dentes já que graças ao cimento acumulado em todo o corpo ao tomar banho à noite tive direito a uma esfoliação corporal simultânea. Tenho tentado manter um estilo alegre e bem-disposto durante estes relatos, tentando evitar algumas palavras e expressões, mas não consigo esconder mais. Hoje com o acesso à internet e algum tempo disponível para pôr a leitura da caixa de e-mail em dia, senti um perto no peito. Chama-se saudade e tenho evitado falar nela. É ela que me forma uma lágrima que não cai mas que me dá tanta vontade de sair daqui. Apetece-me sair daqui e correr para os teus braços. Não pertenço a este mundo imundo, desinteressado e diferente o suficiente para não me interessar por uma pontinha dele. Não tenho nada contra a India mas não quero cá voltar. Desta vez estou mesmo farto, apetece-me atirar a toalha ao chão, desistir, fazer-me fraco. Tenho vivido um dia de cada vez, pensando e desejando apenas que chegue o amanhã, tenho tolhido e bloqueado o meu próprio pensamento, tornei-me prisioneiro de mim mesmo, libertem-me…

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